Um olhar sobre o livro O mistério de Natal , de Edith Stein

Olá!

Você pode estar se perguntar porque ler o post sobre um livro desconhecido. Bom, baixei esse livro no kindle por ter sido escrito por minha baluarte de consagração, Santa Teresa Benedita da Cruz. Já li uns 2 livros sobre ela, assisti o filme, mas não me sinto apta a falar sobre ela. Admiro, mas ainda não sei muito o que temos em comum. O livro me surpreendeu, curtinho, dá pra ler em meia hora. Profundo, direto, linguagem simples. Tinha começado a escrever apenas alguns apontamentos pessoais, mas pensei melhor e achei por bem, divulgar este livro tão interessante.
O livro tem só 4 capítulos: Encarnação e Humanidade,  O seguimento do Filho de Deus feito homem,  O Corpo Místico de Cristo e Meios salvíficos. Colocarei alguns trechos do livro em itálico e farei pequenos comentários, esperando que seja um gostinho para que também se sintam impelidos a ler esse livro.

"Ponhamos nossas mãos nas mãos do Menino-Deus pronunciando nosso 'Sim' ao seu 'Siga-me'.
Vejo esse por nossas mãos nas mãos de Jesus, como uma entrega do nosso fazer diário. Parece algo super simples, mas que muitas vezes nos esquecemos de fazer essa entrega e confiar, assim como Maria confiou com seu Fiat.

"Deus se tornou Filho do homem, para que os homens se tornassem filhos de Deus"
Outra frase que a princípio parece meio óbvia, mas que traz um profundo amor e a nossa dignidade de filhos de Deus, que muitas vezes é esquecida, ocultada pelo mundo que embaça nossa visão de quem de fato somos. Quem melhor sabe de nós, é nosso criador. 

"Se Deus é Amor e está em nós, então não pode ser diferente o nosso amor para com os irmãos".
Vivemos tempos em que muitos se acham no direito de julgar e condenar os outros por suas escolhas, seus erros, esquecendo-nos de nossas imperfeições, da misericórdia. Os meios midiáticos muitas vezes são cruéis e por um erro, destroem e cancelam vidas, aprisionando o outro em seus erros e escolhas, sem crer na possibilidade de mudança. Quanta prepotência, arrogância e egoísmo, não?!

"Por isto o amor humano é a medida do nosso amor a Deus. Mas, é algo mais do que simples amor humano".
Há que se temer uma sociedade sem Deus, sem conhecê-lo e amá-lo. O que mais vemos é o crescimento de grupos que incitam o ódio a quem não acredita no mesmo que eles, a quem pensa diferente, crescimento da cultura de morte (por meio do aborto, da eutanásia, da banalização da vida humana).

"Próximo é aquele que encontramos em nosso caminho e que mais necessita de nós; indiferentemente, se é parente ou não, se a gente gosta dele ou não, se é "moralmente digno" da nossa ajuda ou não. O amor de Cristo não tem limites, ele nunca termina, ele não recua diante da feiura ou sujeira. Ele veio por causa dos pecadores e não por causa dos justos. E se o amor de Cristo mora em nós, então, façamos como Ele, indo ao encontro das ovelhas perdidas"
Ao longo dos nossos dias temos inúmeras maneiras de amar a Deus praticando o amor ao próximo. O mundo, a cultura mundana, as ideologias, pregam cada vez mais divisões por cor, classe social, identificação de gênero, time e tantas outras formas de afastar-nos e nos fazerem esquecer que todos somos irmãos em Cristo. Outro ponto sobre isso é o nosso orgulho e arrogância, que nos fazem sentir-nos melhores ou juízes do outro, esquecendo nossas próprias misérias. Peçamos diariamente ao Espírito Santo que vá nos revelando onde podemos melhorar, o que tem nos separado de Deus. 

"Cristo veio, para devolver ao Pai a humanidade perdida; e quem ama com seu amor, este quer os homens para Deus e não para si. Este é, ao mesmo tempo, o caminho mais seguro para possuí-las para sempre; pois, se amamos uma pessoa em Deus, então somos como ela um em Deus, enquanto que o vício da conquista muitas vezes - mais cedo ou mais tarde - sempre resulta em perda"
Maria, pode nos ajudar muito nesse processo de não reter as pessoas para nós, para alimentar o nosso ego, mas para aproximá-las de Deus. Quando ocorre essa aproximação, todos ganham. Já quando queremos atrair as pessoas simplesmente para nós, por não sermos perfeitos, podemos decepcioná-las, machucá-las ou vice-versa. Uma relação permeada por Deus tende a ser uma relação madura e frutuosa. 

"Há um princípio válido para todas as almas e para os bens exteriores: quem, ambiciosamente, se ocupa em ganhar e apropriar, perde; porém, aquele que tudo oferece a Deus, ganha para sempre"
O ter, o poder e o prazer nada mais são que armas do inimigo para nos desvirtuar daquilo que fomos criados para ser e não nos trazem a verdadeira felicidade, aumentando o vazio de uma vida sem sentido. A Bíblia vem nos guiar a respeito disso em várias passagens, mas na questão dos bens exteriores, uma das que mais chama a atenção é a do jovem rico. Que apesar de seguir aos mandamentos, estava aprisionado em suas riquezas e isso fez com que saísse triste. Aqueles que, pelo contrário, tudo entregavam e aprendiam a viver da providência, tinham uma maior liberdade e confiança no Senhor. Não se restringiam à sua família, sua comunidade, sem grupinho, mas ganhavam toda a humanidade como irmãos. 

"Ser filho de Deus significa: andar apoiado na mão de Deus, na vontade de Deus; não fazer a vontade própria, colocar todo cuidado e toda a esperança nas mãos de Deus, não se preocupar consigo e com seu futuro. Nisto consiste a liberdade e a alegria dos filhos de Deus. Tão poucos a possuem, mesmo entre os realmente piedosos, mesmo entre os heroicamente dispostos ao sacrifício. Sempre andam encurvados sob o peso dos cuidados e obrigações"
É colocar-se confiantemente nas mãos do Pai.

"A confiança em Deus vai se firmar inabalavelmente, quando incluir a disposição de aceitar tudo das mãos do Pai. Pois, somente Ele sabe o que é bom para nós".
Como somos teimosos a aceitar isso, hein?! Seja por orgulho, egoísmo, e tantos outros fatores, temos muita dificuldade em de fato entregar tudo ao Senhor e pronto. 

"O "seja feita a vossa vontade", em toda a sua amplitude, deve ser o fio condutor da vida cristã".
Uma frase tão simples, mas que em nossas fraquezas e teimosias, às vezes não entendemos que a vontade de Deus é melhor pra nós do que pedimos às vezes. 

"Assim como os primeiros pais perderam a filiação divina pelo distanciamento de Deus, assim cada um de nós está sempre entre o nada e a plenitude da vida divina"
Nada está ganho. É necessário vigiar e orar. 

"A paixão e morte de Cristo continuam no seu corpo místico e em todos os seus membros. Todo homem tem que sofrer e morrer. Porém, se ele for membro vivo do corpo de Cristo, então, o seu sofrimento e a sua morte adquirem pela divindade de seu corpo, força salvadora"
É um mistério divino, Cristo é conosco. 

"E assim a pessoa ligada a Cristo, mesmo na noite escura do distanciamento subjetivo de Deus e abandono, persistirá; talvez a divina providência permita o tormento, para libertar a pessoa objetivamente aprisionada"
O Senhor se utiliza de caminhos muitas vezes não compreendidos por nós, mas que servem para nos forjar na fé, nos purificar e fortalecer.

"Deus veio para nos salvar, se nos unirmos a Ele. se conformarmos a nossa vontade com a Sua, Ele conhece a nossa natureza. Ele conta com ela, e por isso nos deu tudo, que nos pode ajudar, para alcançar o fim"
Quanta misericórdia!

" E quem fala diariamente, de coração, "ó Senhor, seja feita a tua vontade", pode confiar, que não desrespeita a vontade divina, onde subjetivamente não tem certeza"
Mesmo nas inseguranças, somos chamados a perseverar na entrega e confiança no Senhor. 

"Assim, não estamos sós, e onde fracassa a confiança em si mesmo e a própria oração, aí ajuda a força da obediência e a força da intercessão"
Muitas vezes é a obediência que nos mantem de pé, mesmo que não percebamos, mesmo que as orações fraquejem. Quem tem amigos de fé e familiares piedosos, provavelmente conta com orações deles por si.

" Na nossa vida deve se criar espaço para Cristo eucarístico, para que Ele possa transformar a nossa vida na sua vida: será que é exigir demais? A gente tem tempo para tantas coisas fúteis, tantas coisas inúteis: ler livros, revistas, jornais, frequentar restaurantes, conversar na rua 15 ou 30 minutos, tudo isto são "dispersões", onde esbanjamos tempo e força. Não se poderá reservar uma hora pela manhã, para se concentrar, e ganhar força, para enfrentar o resto do dia?"
Nosso dia tem 24 horas, o que são 15 ou 30 minutos na frente de tanto? Esse pequeno tempo de encontro pode mudar nosso dia, semana, mês, vida...Quanto tempo do nosso dia, não desperdiçamos vendo inutilidades nas redes sociais? (Me incluo nisso).

"Tentamos nos adaptar conforme o ambiente e, se não conseguimos, a convivência se torna um tormento. Assim também acontece na comunicação diária com o Senhor. Tornarmo-nos cada vez mais sensíveis àquilo que Lhe agrada ou desagrada"
Quanto mais unidos à Deus, mas aguçamos nossa percepção para o que nos aproxima dEle ou não. Estejamos atentos e sejamos perseverantes.

"Descobriremos em nós muita coisa que precisa ser melhorada e outras que às vezes, são quase impossíveis de serem mudadas. Assim nos tornaremos pequenos, humildes, pacientes e condescendentes com o 'cisco no olho do nosso próximo', pois a 'trave' no nosso olho nos incomoda. Finalmente, aprenderemos a aceitar-nos tal qual somos à luz da presença divina e anos entregar à divina misericórdia, que poderá vencer tudo aquilo que está além de nossas forças".
Edith fala sobre a introspecção e a autoavaliação. Reconhecer nossas falhas e limitações é o primeiro passo para o crescimento pessoal. No entanto, também há a aceitação de que algumas características são difíceis de mudar, o que nos leva a uma compreensão mais realista de nós mesmos. E muitas vezes é aí que entra a graça divina, para ir nos quebrantando e nos ajudando a ser o que Ele planejou para nós. Ao reconhecer nossas próprias imperfeições, nos tornamos mais humildes e compreensivos com os outros. A metáfora do “cisco” e da “trave” é uma referência bíblica muito conhecida, que ilustra como nossas próprias falhas nos tornam mais tolerantes com as falhas alheias. A aceitação de si mesmo é vista como um processo espiritual, onde a presença divina e a misericórdia de Deus são fundamentais. Isso implica que, ao nos entregarmos à misericórdia divina, podemos superar desafios que estão além de nossas capacidades humanas.
 
"Filiação divina quer dizer: tornar-se pequeno e, ao mesmo tempo, tornar-se grande. Viver da eucaristia quer dizer: sair, espontaneamente da estreiteza da própria vida e penetrar na amplitude da vida de Cristo. Quem visita o Senhor na sua casa, não quer se ocupar sempre e somente com seus problemas. Vai começar a interessar-se pelas coisas do Senhor"
A filiação divina refere-se à relação íntima e pessoal com Deus, onde nos reconhecemos como filhos dEle. Tornar-se pequeno implica humildade e reconhecimento de nossa dependência de Deus. Ao mesmo tempo, tornar-se grande significa participar da grandeza divina, sendo elevados pela graça de Deus.  A Eucaristia tem papel central na vida católica, representando a comunhão com Cristo, o alimento da nossa alma, um grande mistério de amor. Viver da Eucaristia significa transcender nossas limitações pessoais e entrar na plenitude da vida em Cristo, adotando seus valores e sua missão. A verdadeira devoção e comunhão com Deus nos levam a um desinteresse pelos problemas mundanos e um maior interesse pelas coisas divinas. Isso reflete uma transformação interior onde as preocupações pessoais são substituídas por um desejo de servir e agradar a Deus.

"É o anúncio da paixão, da luta e treva, que já se manifesta no presépio".
Desde o nascimento de Jesus, já está presente a prefiguração de sua missão redentora, que culminará na cruz. O presépio, símbolo de humildade e simplicidade, também carrega em si a antecipação dos sacrifícios futuros. Essa meditação sobre o mistério da encarnação, onde a alegria do nascimento de Cristo está intrinsecamente ligada ao seu sacrifício redentor. É um lembrete de que a luz e a escuridão, a alegria e a dor, muitas vezes coexistem na jornada espiritual.

"  No esplendor da luz, que sai do presépio, cai a sombra da cruz. A luz se apaga nas trevas da sexta-feira santa, mas se levanta com mais fulgor, como sol da graça, na manhã da ressureição. Através da cruz e da paixão para a glória da ressureição, foi o caminho do Filho de Deus encarnado. Chegar com o Filho do Homem, pela paixão e morte à glória da Ressureição, é o caminho de cada um de nós, por toda a humanidade"
Edith ressalta dualidade presente desde o nascimento de Jesus. O presépio, símbolo de luz e esperança, já contém a prefiguração da cruz, símbolo de sofrimento e redenção. A morte na Sexta-feira Santa representa a escuridão e o sofrimento, enquanto a ressurreição no Domingo de Páscoa simboliza a vitória da luz e da graça divina sobre a morte. O caminho de Jesus é uma jornada através do sofrimento (cruz e paixão) até a glória (ressurreição). Isso enfatiza a importância do sacrifício e da redenção na vida de Cristo. Assim como Jesus, cada pessoa é chamada a passar por suas próprias dificuldades e sofrimentos (paixão e morte) para alcançar a glória e a renovação (ressurreição). O caminho de Jesus é um modelo para toda a humanidade.



Mais um pouco sobre o livro: https://edithstein.com.br/e-books/o-misterio-do-natal/


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