Pensando na letra da música Mercúrio do Show Tempestade (parte 1)- Guilherme Sá

Olá!!!

Continuando a postagem anterior, sigo pensando sobre as músicas do show Tempestade, do Guilherme Sá e, a música analisada aqui é a Mercúrio. Essa canção é quase uma confissão poética, um convite à reflexão sobre escolhas, valores e consequências. Guilherme de Sá, com sua formação cristã e estilo introspectivo, constrói uma obra que provoca tanto o coração quanto a mente. A busca pelo prazer (Vênus) sem considerar as consequências (Mercúrio) é um clássico conflito psíquico. Vênus e Mercúrio são arquétipos poderosos. Jung os interpretaria como forças internas: Vênus como anima (prazer, beleza) e Mercúrio como trickster (consequência, transformação). A música parece dialogar com esses arquétipos, sugerindo uma jornada de autoconhecimento, que é bem o perfil do Guilherme.
Vamos nessa?!
Como nos outros posts, a letra da música estará em negrito e meus comentários e observações estarão em letra normal, sem destaque. Em alguns trechos, contei com a ajuda da IA..

Porque o conselho ainda vale
Tome nota
Quem elegeu a procura
Não há de recusar a travessia

“Porque o conselho ainda vale / Tome nota”
Isso remete à sabedoria perene dos ensinamentos cristãos. A Igreja valoriza o conselho dos santos, da Escritura e da Tradição como guias seguros para a vida. “Tome nota” é quase um chamado à vigilância espiritual.
“Quem elegeu a procura / Não há de recusar a travessia”
Essa frase ecoa a famosa citação de Guimarães Rosa: “Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia”. Na teologia, isso pode ser interpretado como o compromisso com a vocação e com o caminho da fé. Quem escolhe seguir a Cristo, deve aceitar também a cruz e os desafios da jornada (cf. Lc 9,23)
A ideia de “eleger a procura” sugere uma decisão consciente de buscar sentido, verdade ou transformação. A psicologia existencial vê isso como assumir a responsabilidade pela própria jornada — não há como voltar atrás sem gerar conflito interno.
A “travessia” pode simbolizar o processo de cura, amadurecimento ou autoconhecimento. Quem inicia uma terapia, por exemplo, precisa atravessar dores e resistências para alcançar crescimento. É o enfrentamento necessário para a integração do self.
O “conselho” pode ser visto como uma intervenção terapêutica ou um momento de lucidez. “Tome nota” é o convite à consciência — à anotação interna de algo que não pode ser ignorado.

Onde toda gente peca
Ninguém faz penitência
Quem busca o que não convém
Perde o que quer e o que tem

"Onde a gente peca/Ninguém faz penitência"
Reflete a realidade do pecado original e da tendência humana ao erro, mas também denuncia a falta de arrependimento. A Igreja ensina que o reconhecimento do pecado e a penitência são caminhos para a salvação.
"Quem busca o que não convém/Perde o que quer e o que tem"
Isso ecoa o ensinamento sobre o livre-arbítrio e as consequências do pecado. Buscar prazeres desordenados pode levar à perda da graça e da paz interior.

Tome nota
O que é do comum é de nenhum
Mal de muitos, consolo é
Mas ai de quem tem um céu
E não elege apenas uma estrela

"O que é do comum é de nenhum"
Essa expressão pode ser interpretada como uma crítica à banalização do sagrado. Na tradição cristã, aquilo que é consagrado a Deus é separado do comum — é “santo”. Quando algo sagrado é tratado como comum, perde-se o sentido de reverência.
Também pode remeter à ideia de que o que é compartilhado indiscriminadamente, sem propósito ou cuidado, perde seu valor. Isso se aplica à fé, aos sacramentos e até às relações humanas.
A frase ecoa o chamado à vocação pessoal: cada pessoa é única e chamada a viver uma missão singular. O que é “de todos” pode acabar sendo negligenciado por todos — e, portanto, “de nenhum”.
Do ponto de vista psicológico, essa frase pode refletir a necessidade de pertencimento e identidade. Quando algo (ou alguém) não tem um lugar definido, uma função clara, pode gerar sensação de vazio ou despersonalização.
Também pode ser lida como uma crítica à massificação: quando tudo é padronizado, perde-se a autenticidade. 
Em relações interpessoais, pode indicar a falta de exclusividade: quando algo é acessível a todos, pode não ser valorizado por ninguém. Isso toca em temas como intimidade, confiança e vínculo
“Mal de muitos, consolo é” é uma crítica à relativização do pecado. A Igreja ensina que o erro coletivo não justifica o erro individual. Cada alma é responsável por sua salvação. Aquela história de que "Ah porque todo mundo tá fazendo algo, não tem problema fazer o mesmo" e nessa muitas almas vão se encaminhando para o inferno. 
“Ai de quem tem um céu / E não elege apenas uma estrela” sugere indecisão espiritual. Na fé católica, é necessário escolher a Deus acima de todas as coisas — “ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24). Ter um céu e não escolher uma estrela pode simbolizar a dispersão dos afetos e da fé. Diante de tantas opções que o mundo oferece, acabamos tirando olhar do que deve vir primeiro em nossa vida: Deus!

Onde toda gente peca
Ninguém faz penitência
(Confesse!)

Aqui há um chamado direto à confissão sacramental. Fugir da verdade é, por si só, uma forma de culpa. A confissão é vista como libertadora e necessária para a reconciliação com Deus.

Quem foge do juiz
Confessa o perjúrio
Eis o múnus da cicatriz
Uma noite com Vênus
O resto da vida com mercúrio

“Quem foge do juiz confessa o perjúrio” 
Fugir do juiz — ou seja, evitar o julgamento — é, paradoxalmente, uma confissão silenciosa de culpa.
O verso sugere que a evasão da verdade já é, por si só, uma admissão.
Pode ser lido como uma crítica à hipocrisia: quem não se submete à justiça, à consciência ou à verdade, revela que tem algo a esconder.
“Eis o múnus da cicatriz” 
Tive que pesquisar o que era múnus, nunca tinha visto essa palavra. “Múnus” é uma palavra de origem latina que significa encargo, missão ou presente.
A cicatriz, nesse contexto, é o presente deixado pela dor — uma marca que carrega memória, aprendizado e responsabilidade.
A frase sugere que sofrer e sobreviver traz consigo uma missão: a de testemunhar, transformar ou redimir.
"Uma noite com Vênus / O resto da vida com mercúrio" Essa parte eu tive que pesquisar, porque não peguei a referência. 
Essa frase é uma referência clássica à sífilis, mas também pode ser interpretada como uma metáfora para os efeitos duradouros do pecado. Vênus representa o prazer imediato; Mercúrio, o sofrimento posterior. A Igreja alerta contra os prazeres passageiros que comprometem a alma.


Achei uma letra densa, simbólica, bem reflexiva, como é o estilo do Guilherme. Espero que minhas observações façam algum sentido para vocês. Curtiu? Compartilha com também curte e me ajuda a divulgar. Quer comentar algo? Fica à vontade.

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