Pensando na letra da música Onze do Show Tempestade (parte 1)- Guilherme Sá

Salve galerinha do rock católico!

Continuando as postagens anteriores, sigo pensando sobre as músicas do show Tempestade, do Guilherme Sá e, a música analisada aqui é a Onze. A letra de "Onze", do Guilherme de Sá, é intensa e cheia de crítica social e introspecção. Ela aborda temas como julgamento, fofoca, ego e a coragem de se afastar de ambientes tóxicos.
Vamos nessa?!


Deixe para trás
Os bons nunca valeram nada
Na boca de quem não presta

"Deixe para trás": Pode remeter ao chamado de Jesus para abandonar o que não edifica — seja pecado, má influência ou atitudes que não levam à vida em plenitude. Assim como Pedro deixou as redes para seguir Cristo, somos convidados a deixar para trás o que nos distancia da graça. Sabe a história do "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém?", é isso. A frase também simboliza o ato de se libertar de ambientes e relações que não respeitam a dignidade humana. É um convite à autonomia, à coragem de escolher o próprio caminho com base em valores éticos e pessoais.
"Os bons nunca valeram nada na boca de quem não presta": Isso ecoa o que Jesus diz sobre ser perseguido por fazer o bem. Em Mateus 5:11-12, Ele afirma que os que são insultados e perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados. Essa frase também denuncia o pecado da calúnia e da língua que fere — condenada em diversas passagens bíblicas como Tiago 3. A frase sobre “os bons” evidencia uma sociedade onde virtudes podem ser apagadas pela maledicência. No olhar humanista, isso denuncia uma falha coletiva: não reconhecer nem preservar o valor da bondade, da empatia e da justiça.
Nessa estrofe percebemos uma crítica ao julgamento alheio. A frase "Os bons nunca valeram nada na boca de quem não presta" sugere que pessoas boas são desvalorizadas por quem vive de maledicência.
 
Não sente a mesa
Onde se fala mal de alguém
Ao levantar-se você vira o assunto
O alvo final

Aqui vemos um alerta sobre os ambientes tóxicos nos quais muitas vezes estamos inseridos. "Não sente à mesa onde se fala mal de alguém" é um convite à integridade — não participar de conversas que ferem os outros. E aqui penso no mandamento de "Amar ao próximo como a ti mesmo".
percebemos ainda a consequência da autenticidade quando ouvimos a frase "Ao levantar-se você vira o assunto, o alvo final" mostra que quem se recusa a compactuar com fofocas acaba sendo o próximo alvo.
Esse trecho ecoa diretamente com os ensinamentos de Jesus sobre a caridade e o amor ao próximo. A fofoca, segundo a moral cristã, é uma forma de pecado que fere a dignidade humana. Recusar-se a participar de tais conversas é um ato de fidelidade à virtude da temperança e da misericórdia.
Do ponto de vista ético, essa estrofe é um apelo à integridade pessoal. O humanismo acredita que o respeito mútuo e o cuidado com o outro são fundamentais para uma sociedade justa. A recusa em participar de julgamentos contra terceiros fortalece a autonomia moral e o senso de justiça.

Onze então dirão
Prego que sobressai, martelada leva
E se a madeira rachar, coitado do ego

"Onze então dirão": Esse número pode simbolizar uma maioria, quase unânime, que julga e condena. Na Bíblia, multidões frequentemente tomam decisões erradas baseadas no julgamento humano (como ao escolher Barrabás em vez de Jesus). Isso pode representar o desafio de permanecer fiel à verdade, mesmo quando a maioria segue caminhos tortuosos. Fala da força da opinião coletiva sobre o indivíduo. O humanismo alerta para os perigos da conformidade cega e exalta o valor da consciência crítica — mesmo que isso signifique ir contra a maioria.
A expressão "Prego que sobressai, martelada leva" é uma metáfora interessante. Ela sugere que quem se destaca ou se posiciona é punido — uma crítica à cultura que desincentiva a autenticidade. Cristãos são chamados a viver de forma autêntica, mesmo sob perseguição. Jesus foi o “prego que sobressaiu” — não se conformou às expectativas religiosas da época e, por isso, foi martelado pela cruz. A frase retrata o preço da santidade e da profecia: destacar-se pela justiça muitas vezes atrai rejeição. Aqui, se sobressair é um risco. Mas também é a essência da liberdade humana: ser quem se é, mesmo sob ameaça. É uma denúncia de sistemas que punem a diferença — seja cultural, intelectual ou moral.
"Se a madeira rachar, coitado do ego" — aqui, o ego é tratado como frágil diante da pressão social. É uma imagem poética que mostra como o orgulho pode ser ferido quando se tenta resistir ao sistema. A madeira pode ser símbolo da cruz, e o ego, a parte do ser humano que busca reconhecimento ou aplauso. A espiritualidade cristã ensina a renúncia ao ego para abraçar o sacrifício e a humildade — como no chamado “negue-se a si mesmo”. Essa linguagem poética é muito característica do Guilherme Sá. Fragilidade emocional: “Se a madeira rachar” evoca a quebra diante da pressão. O ego humano, nessa leitura, sofre quando a integridade se desfaz. Isso pode ser entendido como um apelo à construção de um eu sólido, que resista à opressão sem perder sua essência.

Quem fala uma vez, não fala duas
Mas quem fala dez, certamente
Fala onze
Ou mais

Essa postura de fofoca leva à repetição e exagero. A ideia de que "quem fala dez, certamente fala onze ou mais" mostra como a maledicência cresce e se espalha.
"Quem fala uma vez, não fala duas": Pode remeter à virtude da prudência e da moderação na fala, como ensinado em Provérbios 17:27 – “Quem retém suas palavras tem sabedoria”. No ensinamento cristão, falar pouco e com sabedoria é sinal de santidade. Jesus mesmo silenciava diante de acusações injustas, mostrando que nem tudo merece resposta.
"Mas quem fala dez, certamente fala onze ou mais": Aqui aparece o perigo da língua descontrolada, tema recorrente na Bíblia. Tiago 3 alerta sobre como a língua pode inflamar o corpo inteiro. 
O exagero na fala, principalmente voltado à maledicência ou julgamento, é visto como fonte de pecado. Também traz o alerta: quem se acostuma a criticar, o fará sempre — e de forma crescente.
 O humanismo valoriza a comunicação consciente e responsável. Falar uma vez e parar demonstra domínio próprio, enquanto falar demais pode indicar falta de empatia ou respeito pelo outro. É uma crítica ao comportamento humano que, ao se entregar ao hábito de julgar ou fofocar, perde o discernimento.
Há um efeito de avalanche aqui: a pessoa que fala “dez” sobre alguém dificilmente se freia — e talvez nem perceba que ultrapassou limites. O humanismo vê isso como falha ética coletiva, onde a cultura da exposição e do julgamento se torna norma, corroendo os pilares da convivência.
 
Trinta, quarenta
Cinquenta!

Pode sugerir a repetição exagerada do erro, da fala desnecessária, ou da maledicência — como quem já não se contém mais. Jesus disse que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai dela (Mateus 15:11). E aqui vemos um exemplo do que acontece quando não há freio.
Se pensarmos em pecados que se multiplicam pela boca, talvez seja um chamado à vigilância espiritual. Quanto mais se fala, mais se incorre na possibilidade de erro — o oposto da virtude da temperança.
Essa progressão pode ser vista como uma crítica à banalização da fala. Se antes havia limite, agora há abundância sem filtro: trinta, quarenta, cinquenta... e segue. É como se a pessoa estivesse tão imersa no costume de falar demais que perdeu a noção de medida — uma metáfora perfeita para comportamentos automáticos e impensados.
Também pode ilustrar como hábitos se transformam em sistemas. Começa com uma fala, vira costume, e então cultura — uma sociedade que se acostuma a falar demais sem refletir.

Não sente a mesa
Onde se fala mal de alguém
Ao levantar-se você vira o assunto
O alvo final

Já foi analisado acima.



Espero que tenham gostado, e que essa música nos faça refletir sobre nossas posturas. Continuem por aqui e em breve estarei postando mais músicas do Guilherme. 
Ah, deixo uma sugestão de leitura sobre o tema, o livro A língua, do Padre Francisco Faus. Disponível no link abaixo, do site dele:
https://www.padrefaus.org/wp-content/uploads/2017/11/alngua.pdf

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