Pensando na letra da música Solte-me! do Show Tempestade (parte 1)- Guilherme Sá

Faaaala galera roqueira de Deus!

Para glória do Senhor chegamos na última música da parte 1 do show Tempestade, do Guilherme Sá, a Solte-me. Como as últimas postagem desse show, tentarei analisar a música sob o viés da Igreja Católica  e da Logoterapia. 
A canção ecoa o desejo de redenção e libertação espiritual. O eu lírico, ao afirmar “sou um recluso no exílio, sou um cativo sem sentença”, reflete a condição humana marcada pelo pecado e pela espera da graça divina. O pedido “solte-me!” pode ser entendido como uma súplica por misericórdia, por uma libertação que só pode vir do alto, remetendo à esperança de salvação e à confiança na providência de Deus.
A letra revela o drama de alguém que vive um “coletivo de quases” — uma existência marcada por frustrações, tentativas falhas e ausência de sentido. Viktor Frankl defende que o ser humano pode encontrar propósito mesmo nas situações mais adversas, e que a liberdade interior é possível mesmo em meio ao sofrimento. O protagonista da música parece estar em busca desse sentido, tentando “apreender algum dom”, mas se vê aprisionado por expectativas externas e pela própria incompreensão de sua missão pessoal.
Assim, “Solte-me” é mais do que um grito de dor — é uma oração e uma reflexão sobre o desejo humano de transcendência, de encontrar sentido e de ser livre para amar e ser amado de forma autêntica. É uma ponte entre o sofrimento e a esperança, entre o cárcere emocional e a liberdade espiritual.
Vamos ao que interessa?
A letra da música segue em negrito e itálico e o que estiver em letra "normal" são observações minhas. 

Leve-me, leve-me
Para um lugar onde possa viver
Porque eu vivo um coletivo de quases
Quase um silêncio ameno
Mais ou menos tácito
Ao menos, eu sei que tentei
Eu procurei consolidar um lastro seu
Que fosse então meu
Meu lema, meu fado

O pedido “leve-me para um lugar onde possa viver” remete à busca por uma vida plena, que na só se realiza em comunhão com Deus. O “coletivo de quases” sugere uma existência incompleta, marcada por tentativas frustradas de sentido, que encontra eco na condição humana caída, carente da graça divina. A consolidação de um “lastro seu” — que se torne “meu lema, meu fado” — pode ser vista como o desejo de unir-se ao propósito divino, de fazer da vontade de Deus o próprio destino.
Frankl ensina que o ser humano é movido pela vontade de sentido, e que mesmo diante do sofrimento, é possível encontrar propósito. O trecho “ao menos, eu sei que tentei” revela a dignidade do esforço humano em meio à dor. A busca por um “lastro” — uma base sólida — representa o anseio por um valor que transcenda a superficialidade dos “quases”. O sujeito lírico quer transformar esse vínculo em algo que defina sua existência: seu lema (princípio orientador) e seu fado (destino inevitável).

Foi mesmo quase por querer
Fui tentar apreender algum dom
Mas fui pego, preso em flagrante
Pela Lei Federal, cento e qualquer coisa

A tentativa de “apreender algum dom” também pode ser vista como uma busca espiritual — o desejo de descobrir e viver o dom que Deus concedeu. No entanto, ser “preso em flagrante” sugere que essa busca foi mal interpretada ou desviada, talvez por orgulho, imprudência ou falta de discernimento. A Igreja ensina que os dons devem ser vividos com humildade e em comunhão com a vontade divina. A referência à “Lei Federal” pode ser lida como uma alusão à justiça humana, que é falha, em contraste com a justiça divina, que é misericordiosa e perfeita.
A frase “fui tentar apreender algum dom” revela a busca por um sentido pessoal, por uma vocação ou talento que possa justificar a existência. Viktor Frankl afirma que o ser humano é impulsionado pela vontade de sentido, e que esse sentido é único para cada pessoa. No entanto, o sujeito lírico é “preso em flagrante”, o que pode simbolizar a frustração de tentar viver autenticamente em um mundo que não compreende ou acolhe essa busca. A “Lei Federal, cento e qualquer coisa” soa como uma crítica à burocracia ou à normatividade que sufoca a liberdade interior — uma metáfora para os sistemas que punem o indivíduo por tentar ser ele mesmo.

Solte-me! Solte-me!
Por favor liberte-me, solte-me!
Sei que o erro foi emprestar meu amor
Somente pra que devolvessem em dobro depois

O clamor “Solte-me!” pode ser entendido como uma súplica por libertação das amarras do ego, da dor e da expectativa humana. A fé cristã ensina que o amor deve ser gratuito, como o amor de Cristo, que se doa sem esperar retorno. O erro de “emprestar meu amor somente pra que devolvessem em dobro depois” revela uma tentativa de amar com condições, o que inevitavelmente leva à frustração. Esse tipo de amor não é caridade (agape), mas troca — e quando essa troca falha, o coração se vê preso. O pedido de libertação é, portanto, também um pedido de conversão: de um amor ferido para um amor redentor.
Viktor Frankl ensina que o sofrimento pode ser transformado em sentido quando o indivíduo compreende sua dor como parte de uma missão maior. Aqui, o sujeito lírico reconhece que sua dor vem da expectativa de reciprocidade — uma ilusão que o aprisiona. A libertação que ele busca é a liberdade interior: ser capaz de amar sem depender do retorno, de encontrar valor no próprio ato de amar. A logoterapia encorajaria esse indivíduo a ressignificar sua dor como um aprendizado sobre o amor autêntico e sobre sua própria capacidade de doar-se com liberdade.

Se minha falha consistiu em pleitear
O que era para ser a cabo de apreço
Serei eu que aprenderei a tese
E a prática

A admissão de que “minha falha consistiu em pleitear o que era para ser a cabo de apreço” sugere que o amor, que deveria ser gratuito e respeitoso, foi exigido ou cobrado. Isso contraria o ensinamento bíblico de que o amor verdadeiro não busca seus próprios interesses (cf. 1Cor 13,5). Ao afirmar “serei eu que aprenderei a tese e a prática”, o sujeito se coloca como discípulo da vida e do amor — disposto a aprender não só a teoria, mas também a vivência concreta da caridade. É um gesto de humildade que aponta para a conversão interior e para a esperança de redenção.
Aqui, o eu lírico reconhece que sua expectativa de apreço foi equivocada — ele pleiteou algo que deveria ter sido oferecido espontaneamente. Ao se comprometer com “a tese e a prática”, ele assume a responsabilidade por sua jornada existencial, disposto a integrar o conhecimento racional com a vivência autêntica. Isso é central na logoterapia: encontrar sentido não apenas no sucesso, mas também no fracasso e na superação.

Foi mesmo quase por querer
Fui tentar apreender algum dom
Mas fui pego, preso em flagrante
Pela Lei Federal, cento e qualquer coisa

Repetido

Eu sou um recluso no exílio
Eu sou um cativo sem sentença
Mas eu hei de escapar daqui
Todos que conseguiram
Um dia tentaram

A imagem do “recluso no exílio” e do “cativo sem sentença” evoca a condição do ser humano afastado de Deus, prisioneiro do pecado ou das próprias feridas interiores. No entanto, a afirmação “mas eu hei de escapar daqui” é um ato de fé — a certeza de que a libertação é possível. A frase “todos que conseguiram um dia tentaram” remete à comunhão dos santos, àqueles que, mesmo em meio às tribulações, perseveraram na esperança e alcançaram a liberdade em Cristo. É um chamado à perseverança, à confiança na graça e à certeza de que o esforço sincero pela verdade e pelo amor não é em vão.
Viktor Frankl, sobrevivente de campos de concentração, sabia bem o que era ser um “cativo sem sentença”. Para ele, a liberdade interior é inviolável — mesmo nas piores circunstâncias, o ser humano pode escolher sua atitude diante do sofrimento. O “hei de escapar daqui” não precisa significar uma fuga física, mas sim uma libertação da prisão interior: da desesperança, da dependência emocional, da falta de sentido. A última linha — “todos que conseguiram um dia tentaram” — é um lembrete poderoso de que a busca por sentido exige esforço, coragem e decisão. É a tentativa que abre caminho para a transcendência.

Solte-me! Solte-me!

Repetido

Foi mesmo quase por querer
Fui tentar apreender algum dom
Mas fui pego, preso em flagrante
Pela Lei Federal, cento e qualquer coisa

Repetido


A música Solte-me é uma jornada poética e existencial que transita entre o cárcere emocional e a esperança de libertação. A estrofes revelam camadas de dor, busca, frustração e, por fim, uma abertura ao aprendizado e à transcendência.
O eu lírico representa a alma humana em conflito — marcada pelo pecado, pela expectativa de amor retribuído e pela tentativa de encontrar sentido fora da graça divina. No entanto, ao reconhecer suas falhas e desejar aprender “a tese e a prática”, ele se aproxima da humildade, que é o primeiro passo para a conversão. O clamor por liberdade se transforma em súplica por redenção.
Pela ótica da logoterapia, a canção é um retrato da busca por sentido em meio ao sofrimento. O sujeito tenta amar, tenta compreender, tenta escapar — e é justamente nessa tentativa que reside sua dignidade. Frankl nos ensina que o sentido não é dado, mas descoberto, é único, e que mesmo o sofrimento pode ser transformado em propósito. A última estrofe — “todos que conseguiram um dia tentaram” — é um lembrete poderoso de que a liberdade interior começa com a decisão de tentar.
Solte-me é, portanto, mais do que uma música: é um testemunho da alma que luta para se libertar das amarras da dor e da ilusão, e que encontra, na fé e no sentido, a chave para sua redenção.
Encerrando por aqui essa bela missão que me mostrou toda a profundidade e poesia das músicas do Guilherme Sá. Espero que tenham gostado e refletido sobre essas letras que são lindíssima e que falam muito. 

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