Gratidão

Louvado seja Nosso Senhor, Jesus Cristo!

Dessa vez, venho falar de outro assunto que considero bastante importante e que, a meu ver, está profundamente relacionado com a humildade: a gratidão. Muitas vezes, na hora da necessidade pedimos ajuda ao outro ou rezamos a Deus para dar 'aquela forcinha', mas quando conseguimos o que queríamos, parece que esquecemos de quem ajudou, deixamos Deus de lado ou aquele colega que, sem ele não teríamos conseguido. O mundo já está tão cheio de egoísmo e orgulho, que antes mesmo que lessem meus escritos, gostaria de deixar o desafio de agradecer mais e pedir menos, ou louvar mais e murmurar menos. 



Creio que a gratidão ajuda a quebrar o nosso orgulho e egoísmo, por nos fazer perceber que precisamos do outro, pois não somos de todo autossuficientes. E acho tão belo isso de reconhecer e glorificar a Deus pelos talentos alheios, ao invés de invejar e tentar derrubar o outro. Claro, temos que ter cuidado de não focar só nas virtudes do outros, fazendo-nos dependentes deles e esquecendo das nossas próprias virtudes. A união das virtudes faz um bem tremendo à humanidade.   
Como sempre, mesclarei apontamentos meus, com trechos do Catecismo da Igreja Católica e com palavras do Papa Francisco em suas homilias.
A respeito da gratidão do homem para com Cristo, vemos no CIC:
§1418 Visto que Cristo mesmo está presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo com um culto de adoração. "A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo, nosso Senhor. "
Muitos mais que uma prova de gratidão, vejo a visita ao Santíssimo Sacramento como uma necessidade própria da nossa alma. E não deixo de espantar-me ao contemplá-lo ali no mistério do Pão. Como diz na música 'Milagre de amor', cantada pela Juliana de Paula: "Eu te adoro meu Jesus/ 
Doce mistério no meu coração/Como um Deus tão grande e soberano/ Se faz pequeno em um pedaço de pão/Só por amor".  A Eucaristia é uma graça muuuuuuito grande que temos acesso diariamente (dependendo de onde moramos) e muitas vezes não damos o devido valor, deixamos que se torne algo 'normal'. Poxa, é um misterioso milagre que acontece diante de nós!! 
No trecho do CIC que fala da gratidão do homem para com Deus, temos que:
§1148 Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador
Quantas vezes esquecemos de agradecer pelo pão de cada dia? Quantas vezes preferimos desperdiçar alimento a partilhá-lo com quem está ao nosso lado? Quantas vezes, na hora da refeição esquecemos de olhar quem está ao nosso lado, de perguntar como foi a manhã ou o dia. Preferimos nos esconder em conversar virtuais, a dar atenção a quem está a um braço de distância. Vamos valorizar mais quem está conosco diariamente. O pão e alimento é dom de Deus, assim como as vidas que estão ao nosso redor.
Em nossos pequenos atos 
do dia a dia 
possamos nos santificar 
com humildade e gratidão, 
fraternidade e comunhão.

Com o CIC, aprendemos que:
§2062 Os mandamentos propriamente ditos vêm em segundo lugar; exprimem as implicações da pertença a Deus, instituída pela Aliança. A existência moral é resposta à iniciativa amorosa do Senhor. E reconhecimento, homenagem a Deus e culto de ação de graças. É cooperação com o plano que Deus executa na história.
Por vezes, vejo o serviço, qualquer que seja ele, como uma expressão de gratidão a Deus, que nos impulsiona a amar o irmão. Provavelmente Deus se alegra bastante ao ver seus filhos unidos de felizes, quando vê que saímos dos nossos egoísmos infantis e vamos ao encontro do outro com atitudes de amor puro e verdadeiro. Essa é a nossa essência.
Maria, como a escolhida para ser a mãe do Salvador, muito nos ensina sobre a gratidão, humildade, louvor e adoração:
§2097 Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer "o nada da criatura", que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que seu nome é santo. A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo.
O papa Francisco também fala de Maria e de sua gratidão:
Nesta Jornada Jubilar, é-nos proposto um modelo – antes, o modelo – a contemplar: Maria, a nossa Mãe. Depois de ter recebido o anúncio do Anjo, Ela deixou brotar do seu coração um cântico de louvor e agradecimento a Deus: «A minha alma glorifica o Senhor….» Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a entender que tudo é dom de Deus e a saber agradecer: então – garanto-vos eu – a nossa alegria será completa. Só aquele que sabe agradecer, experimenta a plenitude da alegria.

Deixamos passar em branco, inúmeras vezes, a gratidão às autoridades que nos ajudam, seja os nossos pais, os professores, os padres, os pastores dos grupos.... Quantos sim's não foram dados pelos apóstolos e todos que deixaram suas vidas para espalhar a Boa Nova ? Quantos sim's não foram dados em nossa família, para que existíssemos hoje ? Em em nossa paróquia ? Em nossa comunidade ? É nossa responsabilidade também zelar e cuidar de quem cuida de nós, pedir a Deus por aqueles que devem nos guiar, para que tenham sabedoria e mansidão. 
 §1900 O dever da obediência impõe a todos prestar à autoridade as honras a ela devidas e cercar de respeito e, conforme seu mérito de gratidão e benevolência as pessoas investidas de autoridade.
Deve-se ao papa S. Clemente de Roma a mais antiga oração Igreja pela autoridade política:
"Concedei-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade para que exerçam sem entraves a soberania que lhes concedestes. Sois vós, Mestre, rei celeste dos séculos, quem dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, seu conselho segundo o que é bom, segundo o que é agradável a vossos olhos, a fim de que, exercendo com piedade, na paz e mansidão, o poder que lhes destes, Nos encontrem propício.
§2199 O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relações com seu pai e sua mãe, porque esta relação é a mais universal. Diz respeito também as relações de parentesco com Os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeição e reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para com seu professor, dos empregados para com seus patrões, dos subordinados para com seus chefes, dos cidadãos para com sua pátria e para com os que a administram ou a governam.
Este mandamento implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes, magistrados, governantes, de todos os que exercem uma autoridade sobre outros ou sobre uma comunidade.
§2215 O respeito pelos pais (piedade filial) é produto do reconhecimento para com aqueles que, pelo dom da vida, por seu amor e por seu trabalho puseram seus filhos no mundo e permitiram que crescessem em estatura, em sabedoria e graça. "Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que foste gerado por eles. O que lhes darás pelo que te deram?" (Eclo 7,27-28).
§2220 Os cristãos devem uma gratidão especial àqueles de quem receberam o dom da fé, a graça do Batismo e a vida na Igreja Pode tratar-se dos pais, de outros membros da família, dos avós. dos pastores, dos catequistas, de outros professores ou amigos. "Evoco a lembrança da fé sem hipocrisia que há em ti, a mesma que habitou primeiramente em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice e que, estou convencido, reside também em ti" (2 Tm 1,5).

Lembremos diariamente de colocar em nossas orações todos esses a quem devemos gratidão. E, falando de Brasil, precisamos cada vez mais rezar pelas autoridades políticas que tanto têm nos decepcionado. Rezemos por suas conversões, por sabedoria, pela salvação de suas almas, pela misericórdia de Deus em suas vidas.
Na Palavra, temos uma passagem que nos faz pensar bastante na gratidão. Aquela que fala dos dez leprosos que foram curados, mas que somente um deles, voltou para agradecer a Jesus. Em sua homilia, no dia que essa passagem fez parte da liturgia (9 de outubro de 2016), o Papa Francisco nos leva a pensar:
Como é importante saber agradecer, saber louvar por tudo aquilo que o Senhor faz por nós! Assim podemos perguntar-nos: somos capazes de dizer obrigado? Quantas vezes dizemos obrigado em família, na comunidade, na Igreja? Quantas vezes dizemos obrigado a quem nos ajuda, a quem está ao nosso lado, a quem nos acompanha na vida? Muitas vezes consideramos tudo como se nos fosse devido! E isto acontece também com Deus. É fácil ir ter com o Senhor para Lhe pedir qualquer coisa, mas voltar para Lhe agradecer… Por isso Jesus sublinha fortemente a falta dos nove leprosos ingratos: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» (Lc 17, 17-18).
O coração de Maria, mais do que qualquer outro, é um coração humilde e capaz de acolher os dons de Deus. E, para Se fazer homem, Deus escolheu-A precisamente a Ela, uma jovem simples de Nazaré, que não vivia nos palácios do poder e da riqueza, que não realizou feitos extraordinários. Interroguemo-nos – far-nos-á bem – se estamos dispostos a receber os dons de Deus ou preferimos antes fechar-nos nas seguranças materiais, nas seguranças intelectuais, nas seguranças dos nossos projetos.
Para encerrar, coloco aqui mais algumas palavras do papa em sua homilia na referida data:
Para saber agradecer, é preciso também a humildade. Na primeira Leitura, ouvimos o caso singular de Naaman, comandante do exército do rei da Síria (cf. 2 Re 5, 14-17). Está leproso; para se curar, aceita a sugestão duma pobre escrava e confia-se aos cuidados do profeta Eliseu, que para ele é um inimigo. Naaman, porém, está disposto a humilhar-se. E, dele, Eliseu não pretende nada; manda-o apenas mergulhar na água do rio Jordão. Esta exigência deixa Naaman perplexo, até mesmo contrariado: poderá porventura ser verdadeiramente um Deus, Aquele que pede coisas tão banais? E estava para voltar a casa, mas depois aceita mergulhar no Jordão e, imediatamente, fica curado.

É significativo que Naaman e o samaritano sejam dois estrangeiros. Quantos estrangeiros, incluindo pessoas doutras religiões, nos dão exemplo de valores que nós, às vezes, esquecemos ou negligenciamos! É verdade; quem vive a nosso lado, talvez desprezado e marginalizado porque estrangeiro, pode-nos ensinar como trilhar o caminho que o Senhor quer. Também a Mãe de Deus, juntamente com o esposo José, experimentou a separação da sua terra. Por muito tempo, também Ela foi estrangeira no Egito, vivendo longe de parentes e amigos. Mas a sua fé soube vencer as dificuldades. Conservemos intimamente esta fé simples da Santíssima Mãe de Deus; peçamos-Lhe a graça de saber voltar sempre a Jesus e dizer-Lhe o nosso obrigado pelos inúmeros benefícios da sua misericórdia.
 Enfim, fica o texto para pensarmos e colocarmos em ação o que está nos faltando, aproveitando esse tempo de preparação para a chegada do Senhor.


Fonte:
Catecismo da Igreja Católica (CIC)
http://www.comshalom.org/papa-so-aquele-que-sabe-agradecer-experimenta-a-plenitude-da-alegria/

Paz e Luz! (ou Shalumen!, como brinca uma amiga minha) ;)

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