Algumas informações sobre a Quaresma.

Olá!

Nesses dias de carnaval tenho refletido bastante sobre a vida, sobre a Obra Lumen (comunidade na qual sou membro), sobre como colocar o que está na Palavra de forma prática e real no meu dia a dia. Hoje, pela primeira vez, escutei um pouco da live do Italo Marsili sobre a Quaresma, e um pouco de cada uma dessas coisas me impulsionou ou motivou a tentar reativar o blog de forma mais efetiva. Nesse post quero colocar algumas informações/orientações básicas, mas que talvez não costumemos parar para pensar a respeito.
                        Fonte da imagem: https://opusdei.org/pt-br/document/mensagem-do-papa-francisco-para-a-quaresma-de-2019/
Percebo que muitos cristãos falam da Quaresma como algo que deve ser vivido como para preparação para a Semana Santa, e tal, mas que não entendem muito bem o porque ou como algumas ações podem de fato fazer a diferença na nossa vida. 
Muitos também fazem confusão entre jejum, abstinência e penitência. Vejamos sobre o jejum:
De acordo com o Código de Direito Canônico – livro das leis que orienta a Igreja Católica – o jejum é a "forma de penitência que consiste na privação de alimentos". Para tal prática, a orientação tradicional é que se faça apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, pode-se tomar duas outras pequenas refeições, que não sejam iguais em quantidade à habitual.
Pelas orientações da Igreja, estão obrigados ao jejum os que tiverem completado 18 anos até os 59 completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.
Sobre a abstinência:
O Direito Canônico diz que "consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre". Segundo o documento, a tradição da Igreja indica a abstenção de carne, pelo menos nas sextas-feiras da Quaresma. "Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo os mais requintados e dispendiosos [caros] ou da especial preferência de cada um", orienta o documento.
A obrigação da abstinência começa aos 14 anos e se prolonga por toda a vida. Grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência, bem como os pobres que recebem carne por esmola.
E qual o significado dessas práticas? Utilizar-me-ei da resposta do padre Roger, da Canção Nova.
De acordo com padre Roger, a opção pela abstinência de carne é devido ao seu consumo comum pela maioria das pessoas. "Espiritualmente, a abstinência de carne é uma forma de união a Cristo que vive sua Paixão. Pode ser também uma maneira mística de olhar a carne de Cristo pregada na Cruz e Seu Sangue derramado pela humanidade".
O padre explica que o jejum e a abstinência devem estar alinhados à busca do amor ao próximo e a Deus. “Jejum não é um regime ou uma dieta, é uma prática espiritual. É uma forma de nos unirmos a Deus na oração e na penitência. Ele também deve ser uma forma de superarmos o ressentimento, as mágoas, e sobretudo cuidarmos do outro que precisa de nós."
Ouso dizer ainda, explicando de uma forma bem direta, que o jejum e abstinência, servem também para nos educar quanto às nossas paixões. Paixões essas que não são necessariamente aquelas vistas num sentido romântico, mas como aquilo que nos move/provoca a agir. Por exemplo, uma pessoa que passa o dia vendo redes sociais sem que seja para trabalho ou edificação, estaria com um desequilíbrio nas paixões e provavelmente um vazio enorme em sua vida. Outro exemplo, seria um marido ou esposa que trai sem nem saber explicar o porque, atribuindo a um impulso. Algo está em desequilíbrio nessa pessoa. Isso de dizer que não há um controle próprio, que o impulso foi mais forte, nada mais é que um indicativo de que algo não está bem nesse sujeito, necessitado de um reordenamento para o Amor. 
Logo, o jejum e abstinência nos remetem ao que é necessário, educando assim a retirarmos os excessos, o que é desnecessário, o que não alimenta de fato a nossa vida.  A penitência também vem com esse viés de restabelecer o nosso equilíbrio espiritual e desenvolver/aprimorar  em nós algumas virtudes, tais como a temperança, justiça (por meio da caridade), prudência. 
Sobre a penitência:
Quer nos fazer lembrar de algo, de uma mortificação da nossa carne, de uma mortificação dos nossos sentidos para nos lembrarmos do centro da nossa vida, que é Deus. Então, a penitência tem que ser algo que lhe custe. Por exemplo, não dá para fazer penitência de carne se eu prefiro frango; não dá para fazer penitência de uma coisa que eu não tenha como comer todos os dias. Todos os dias você come caviar? Não tem como você fazer penitência de caviar, sendo que você não come isso todos os dias, então, tem que ser algo que verdadeiramente você vá sentir falta. Por exemplo: “Ah, eu gosto muito de café!” Opá! Se eu gosto muito dessa bebida, isso vai me fazer falta. Então a penitência tem que ser algo que recorde você o ”para que” você a está fazendo.
Seguem os tipos de penitência e algumas sugestões do Padre José Eduardo. Reforçando que não é o mais fácil, mas o que vai de fato nos fazer falta e nos trazer algum engrandecimento enquanto libertação de apegos, costumes que não nos engrandecem enquanto cristãos. 

1. Penitências gastronômicas:
– Trocar a carne por peixe, ovos ou queijo (ou mesmo comer puro);
– Comer menos arroz, feijão, pão, macarrão, para sair da mesa com um pouco de apetite;
– Eliminar todos doces, refrigerantes, chocolate e demais guloseimas;
– Nas refeições, acrescentar algo que seja desagradável, como diminuir a quantidade de sal ou colocar um condimento que quebre um pouco o sabor;
– Comer algum legume ou verdura que não se goste muito;
– Diminuir ou mesmo tirar as refeições intermediárias (como o lanche da tarde);
– Tomar café sem açúcar, ou água numa temperatura menos agradável;
– Reservar algum dia para o jejum total ou parcial.

2. Penitências corporais:
(Apenas para ajudarem a não perdermos o sentido do sacrifício ao longo do dia, a não sermos relaxados, devendo ser pequenas e discretas).
– Dormir sem travesseiro;
– Sentar-se apenas em cadeiras duras;
– Rezar alguma oração mais prolongada de joelhos;
– Não usar elevadores ou escadas rolantes;
– Trabalhar sem se encostar na cadeira;
– Cuidar da postura corporal;
– Descer um ponto antes do ônibus e fazer uma parte do caminho à pé;
– Deixar de usar o carro e pegar um transporte coletivo.

3. Penitências Morais:
(São as mais importantes)
– Não reclamar das contrariedades do dia, mas agradecer e louvar a Deus;
– Sorrir sempre, mesmo quando haja um nervoso;
– Moderar a frequência às redes sociais, celular e computador (reduzir a poucas vezes ao dia);
– Desligar as notificações do celular;
– Fazer os serviços mais incômodos na casa e no trabalho, ajudando os outros;
– Acordar mais cedo para fazer oração;
– Não ouvir música no carro;
– Não assistir TV, mas dedicar este tempo à leitura;
– Não usar jogos eletrônicos, caso seja viciado;
– Fazer algum trabalho voluntário;
– Rezar mais pelos outros, do que por si mesmo;
– Reservar dinheiro para dar esmolas, mas sobretudo, atenção aos mendigos;
– Não se defender quando alguém lhe acusa;
– Falar bem das pessoas que se gostaria de criticar;
– Ouvir as pessoas incômodas sem as interromper;
– Dormir no horário, mesmo sem vontade.

Enfatizo ainda que o jejum, abstinência e penitência não devem ser vividos como um fardo, como motivo de murmuração ou de ficar ostentando que está fazendo um grande sacrifício, mas devem ser vividos como o que de fato são, oportunidades de nos tornarmos melhores individual e socialmente. 

O direcionamento da Igreja é viver o jejum, a caridade e a oração, ou seja, é para viver os três e não escolher apenas um, com o qual temos mais facilidade de viver. Sei que não é fácil sair do nosso comodismo, mas também digo por experiência que vale a pena sair um pouco do nosso costume e experimentar práticas diferentes. É gratificante perceber que o simples propormos o diferente e buscar fazer, trás frutos de santidade e virtudes. 
Busquem de fato viver esses 40 dias nessa proposta e agora sabendo os porquês. E, se possível gostaria da partilha de vocês sobre os frutos que percebem ao longo desse tempo. Acho que é pela partilha das alegrias apesar de todas as dificuldades, que nos fortalecemos, animamos um ao outro, percebemos concretamente que é possível e que podemos sim melhorar pequenas coisas nesse tempo proposto. 

Fiquem com Deus!

Luz e Alegria!

Fontes: 
https://cleofas.com.br/qual-penitencia-escolher-para-viver-este-periodo-da-quaresma/
https://noticias.cancaonova.com/brasil/jejum-e-abstinencia-saiba-o-que-ensina-a-igreja-sobre-o-assunto/
https://cleofas.com.br/qual-e-o-sentido-de-se-fazer-uma-penitencia-por-40-dias-como-escolher-uma-boa-penitencia/
https://comunidadeportafidei.wordpress.com/2016/03/11/especial-quaresma-01-quaresma-tempo-de-progresso-nas-virtudes/
https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/como-discernir-qual-penitencia-fazer/
https://cleofas.com.br/qual-penitencia-escolher-para-viver-este-periodo-da-quaresma/

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